O segredo está nas mãos do autor. Ao receber a crítica de sua obra – ou analisar a opinião de alguém sobre o livro de outro escritor – é crucial conhecer a pessoa que a emitiu, se quiser levá-la em consideração.
O texto está pronto. Seja o romance, o conto ou o artigo. Um dos próximos passos dado por escritores – iniciantes ou não – é submetê-lo à análise crítica de escritores e leitores; muitas vezes de amigos. Um passo importante quando se trata de identificar erros gramaticais e possíveis furos na história. O autor, tão envolvido e compenetrado com a obra, muitas vezes não consegue enxergá-los após dedicar certo tempo àquela escrita. Opiniões são bem-vindas, mas exprimir um “conceito pessoal” (preconceito) a respeito da obra de alguém é positivo ou negativo?
Na verdade, a pessoa que irá emitir essa opinião não tem muito que fazer. Expressar um conceito, hoje em dia, é algo difícil e livrar-nos dos nossos gostos, na hora de apontar, algo mais difícil ainda. Seria maravilhoso se cada leitor beta tivesse a capacidade de olhar para uma obra deixando de lado suas crenças e emitindo a real sintonia que teve com a obra. Audácia que muitos diriam não resultar em nada, pois o objetivo dessas leituras é distinguir o que determinado público achará da história e da forma como foi contada. Porém, muitas vezes, submetemos nossos textos à análise de pessoas que não se distinguem culturalmente uma das outras. Conseguimos, assim, catar as pedras do feijão, mas poucos são capazes de colocá-lo para cozinhar.
O segredo está nas mãos do autor. Ao receber a crítica de sua obra – ou analisar a opinião de alguém sobre o livro de outro escritor – é crucial conhecer a pessoa que a emitiu, se quiser levá-la em consideração. É importante que o receptor conheça quais os parâmetros que levaram o leitor a fazer determinado comentário. Perguntando se foram formulados a partir de conceitos ou de crenças, pois a última é mutável. Posso, nesse segundo, emitir a opinião sobre determinado texto e, ao lê-lo novamente, adquirir uma visão completamente diferente.
Tema que não vale apenas para escritores, mas para leitores que se deixam induzir pelo julgamento traçado de outra pessoa, sem levantar questionamentos. Sem pensar o quanto somos diferentes em nossos gostos, mesmo que sejam parecidos. Definimos, com a ajuda de críticos (que podem ser qualquer pessoa que emite opinião sobre determinado texto e não apenas o profissional), o que é uma obra boa e outra ruim e a resignação resulta na falta da liberdade de escolha.
Apesar disso, é uma etapa que não deve ser ignorada. O confronto das ideias é o processo válido, que trará o resultado desejado. Aceitar a opinião de alguém, sem confrontá-la com a sua ou, melhor ainda, de outras pessoas, não surte efeito no que diz respeito ao crescimento pessoal como escritor: no crescimento da sua obra. No que diz respeito ao conforto, quando apreciam o que escrevemos sem traçar pontos a serem melhorados, muitas vezes, devemos nos fazer as mesmas perguntas.
Então, será que não posso aceitar nada de bom grado? Em minha opinião “pessoal”, não! Uma crítica será bem aproveitada quando analisada, mesmo que já seja fruto de uma análise. É o ato de saborear o que o leitor pensa sobre seu texto, sem apenas ingerir.
Critiquem minha crítica sobre a crítica e todas as demais que encontrarem pela frente, caso cheguem a conclusão de que é viável.
-***-